Adelino Ramos, assassinado em maio de 2011. |
Escrito pelo
engenheiro agrônomo e ativista de movimentos rurais, José Barbosa de Carvalho,
o livro intitulado “Dinho, o herói da Amazônia” contará a vida de um dos
principais lideres rurais dentro da Amazônia na última década.
A historia
narrada no livro passará desde o inicio das militâncias rurais de “Dinho” em
seu estado natal o Paraná, até a sua vinda para Rondônia, local onde estabeleceu e travou suas
mais árduas batalhas em defesa de seus ideais.
O autor
pretende lançar o livro na passagem dos seis meses da morte de “Dinho” em São
Paulo e nas principais cidades da Amazônia, Porto Velho, Manaus, Rio Branco e
Belém.
Vamos pintar o mundo de povo!!!"
Assassinado em maio deste ano, o líder camponês e
sobrevivente do Massacre de Corumbiara Adelino Ramos tem sua história contada
no livro “Dinho, o herói da Amazônia”. A obra vem das mãos de José Barbosa de
Carvalho, engenheiro agrônomo com forte ligação junto aos movimentos rurais.
Este singelo blogueiro conversou com o autor sobre a vida do homenageado, o
Movimento Camponês Corumbiara (MCC) e as dificuldades para publicar a obra, já
que na região até quem escreve sobre a questão agrária sofre represália. Barbosa
que o diga. No lançamento do seu último livro, teve a própria casa queimada.
Mas assim como Dinho, insiste no desafio. Confira a entrevista
- O que motivou
você a escrever sobre o Adelino Ramos?
Barbosa: O motivo principal, em primeiro lugar, é dar alguma forma de
colaboração para que o assassinato do Adelino Ramos, o Dinho, um dos maiores
líderes camponês da Amazônia, não caia no esquecimento. E, em segundo lugar,
para manter o assunto em evidência e contribuir para que o assassino e quem
está por trás dele não fique impunes.
- O homenageado fez parte do Movimento Camponês Corumbiaras (MCC), do qual você
chegou acompanhar alguns encontros. Fale um pouco sobre o MCC.
Barbosa: O Dinho foi um dos fundadores do Movimento Camponês dos Corumbiaras, o
famoso MCC, fundado poucos meses depois do massacre ocorrido na cidade que leva
esse nome, em Rondônia. Na ocasião, em 1995, a polícia invadiu um assentamento
montado na fazenda Santa Elina e mataram 16 pessoas e deixaram mais de 50
gravemente feridos. Desde o ano seguinte, passaram a organizar os encontros do
MCC que reúne trabalhadores rurais de Rondônia e do sul do Amazonas e no qual
se discute a precariedade dos projetos de assentamento do INCRA, principalmente
a falta de infra estrutura, as questões ambientais da Amazônia e,
principalmente, a violência no campo e as áreas destinadas a Reforma Agrária,
cujas terras são utilizadas por não-clientes dela. Eu tive pessoalmente no
quarto, sétimo e oitavo encontros, realizados respectivamente em 2002, 2005 e 2006.
Participei também da Jornada Camponesa “Escuta Brasil”, que culminou com o
bloqueio das BR’s 364 e 425, e está entre as ações mais conseqüentes do
movimento na reivindicação de suas pautas, já que essas são vias de escoamento
de produção agrícola e do Pólo Industrial de Manaus (PIM).
- O que ele representava para o MCC?
Barbosa: Podemos afirmar que o Dinho era a maior liderança desse movimento. Até
mesmo pela sua experiência. Foi uma pessoa que sempre esteve ligado às causas
dos trabalhadores do campo. Começou lá no Paraná, de onde era originário, e
desde criança participou da luta pela terra e pela reforma agrária naquele
estado. Depois veio para Rondônia, militou no movimento sindical dos
trabalhadores rurais e, em 1995, participou dos acontecimentos que redundaram
no massacre de Corumbiara. A figura dele era de suma importância para o
movimento, era um líder respeitado. Mas além dele há vários outros, inclusive
mulheres envolvidas na luta camponesa.
- Você tem falado das dificuldades enfrentadas pelos agricultores nesses
conflitos agrários na Amazônia. E quanto à publicação de livros que trazem essa
polêmica, quais os desafios que se impõem?
Barbosa: As dificuldades são enormes. As editoras ficam apreensivas com a
publicação dessas obras, mas estamos acostumados a enfrentar desafios e
acreditamos que esse é mais que será vencido. Mas a postura das editoras tem lá
sua razão. Durante o lançamento do meu livro ano passado, minha família teve um
prejuízo de mais de R$ 200.00,00. Enquanto estávamos na atividade, minha casa
foi incendiada e até hoje não se chegou a conclusão sobre os autores daquele
atentado.
- Como você tem planejado o lançamento do livro?
Barbosa: Os desafios são imensos para a publicação da obra. Estamos procurando
editoras de São Paulo, de Brasília, para lançar esta obra. Queremos lançar não
só em Manaus, mas também em Porto Velho, Belém, Rio Branco. Nas principais
cidades da Amazônia. Pretendo lançá-lo na passagem dos 6 meses do assassinato
do Dinho e o nosso objetivo principal é divulgar essa questão da luta camponesa
na região e exigir que os mandantes e assassinos de Dinho sejam devidamente
punidos. A nossa esperança é que essa publicação contribua para o
fortalecimento do MCC.
- Você era amigo pessoal do Adelino Ramos. Como o descreve?
Barbosa: O Dinho era uma pessoa corajosa, determinada, uma pessoa que tinha luz
na sua caminhada e que era respeitado por todos, até mesmo pelas autoridades.
Na jornada “Escuta Brasil”, cheguei a ver o Ouvidor Agrário Nacional, Dr.
Gercino José da Silva Filho, falar para uma platéia de mais de 200 pessoas da
satisfação que tinha em ser amigo dele. O Dinho era uma personalidade decidida
e que enfrentava o latifúndio sem medo. Jamais acreditava que um dia seria
assassinado. Sabia do perigo de denunciar madeireiros, fazendeiros e até
partícipes da máquina estatal, mas jamais pensava que isso ocorreria de fato.
- Apesar desse pensamento, o Dinho recebeu várias ameaças de mortes, não?!
Barbosa: Ele era ameaçado constantemente e respondia a bastante processos na
Justiça de Rondônia. Era pressionado de todos os lados. No lançamento do meu
primeiro livro, “Desmatamentos, grilagens e conflitos agrários”, em julho do
ano passado, na livraria Valler, denunciou que estava sofrendo ameaças que
davam conta de que ele teria somente 30 dias de vida. Três dias antes,
participamos de uma audiência do INCRA em que se discutiu a violência no campo
e lá anunciou isso. Esteve na TV Cultura também, onde repetiu a denúncia.
Ameaça de morte contra a pessoa do Dinho eram constantes. Nas oportunidades em
que ele ficou alojado na minha casa, comentava sobre isso, mas era uma pessoa
corajosa.
- E quem o matou?
Barbosa: O assassino do Dinho é membro da família Machado, que devido a essa
questão de terra já executaram membros da própria família. São pessoas ligadas
aos madeireiros e aos latifundiários. São conhecidos no município de Lábrea e
também na vizinha Vista Alegre do Abunã (RO) e, principalmente, no ramal do
Ipê, onde tem o Parque Nacional Mapinguari. São madeireiros que violaram o
Projeto de Assentamento Florestal Curuquetê, também invadido por grileiros.
- Você tem conhecimento de como o assassino e os mandantes estão hoje?
Barbosa: Sabemos que apenas o assassino foi preso e está se discutindo a
possibilidade de que o processo seja federalizado. A informação que nós temos é
que os mandantes ainda não foram encontrados. Aquela área do sul do Amazonas e
um pedacinho de Rondônia, bem próximo ao Acre e também a Bolívia, é uma área de
intensos conflitos por terra e por madeira.
- Depois do assassinato, como está a região?
Barbosa: A notícia que tenho é de que o clima na região é de medo. No
assentamento do PDS Gedeão, que fica próximo, lá então o clima é de muito medo.
Principalmente por causa da ameaça feita por grandes proprietários de terra
contra os agricultores. Não estive lá, mas as pessoas que têm ido trazem a
notícia que o clima é de muita tensão.
- Com a repercussão da morte dele, divulgada em rede nacional de rádio, TV e
internet, o que pode se esperar como resposta do Estado?
Barbosa: Após o assassinato do Dinho e o casal do Pará, o Estado tem agido com
rapidez. Temos que destacar o papel da comissão do senado que apura a violência
do campo na Amazônia, do qual faz parte a senadora Vanessa Grazziotin. Essa comissão
já esteve em Vista Alegre do Abunã, onde ele foi assassinado, e tem feito o
acompanhado. Recentemente, ouvimos falar no envio de homens da força nacional
para conter a violência realizada em Santo Antonio do Matupi, que é uma região
próxima do conflito.
- E quanto ao movimento, quais os caminhos a serem percorridos para essa luta
continuar?
Barbosa: Nós falamos no livro sobre o futuro do Movimento Camponês Corumbiara.
Apesar de ter sofrido uma baixa significativa com a morte de seu grande líder,
o movimento continua firme e coeso para lutar pela reforma agrária. Porque essa
questão é o imperativo para que haja desenvolvimento nacional. O Brasil precisa
sair de um sistema fundiário atrasado, que remonta os tempos das sesmarias para
dar um salto mais avançado com a questão do acesso à terra. Permitir que
milhões de trabalhadores rurais que permanecem sem terra possam participar da
produção e também da fixação no campo, aumentando a produção agrícola e o
consumo. Com a morte do Dinho, o movimento sofre uma derrota, mas não a guerra.
A luta continua até que a reforma agrária seja definitivamente implantada e com
sucesso no Brasil.
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